A arqueologia abrange atividades importantes para a identificação daquilo que não vemos,
A arqueologia revela o que foi sucumbido pelo tempo; demonstra a ignorância que temos.
Sem dúvida, um trabalho árduo, ora tomado como demorado; comumente desacreditado,
Isolado, silêncio preservado, olhar arregalado, por vezes, cerrado, seja de joelhos ou deitado.
Para cada técnica, um instrumento: calma, sopro, aproximação, análise, escuta e observação,
Pois não se retira de uma única vez o objeto do chão, é necessário preservar a sua constituição.
É preciso cuidado, atenção aos detalhes, já que a escavação lida com valores de outros mundos,
Aqui, é diferente, visto que a ordem dos tempos não obedece às determinações dos segundos.
Como se fosse a exumação daquilo que é desconhecido para o arqueólogo, que só teve notícias,
São palavras propícias contra quaisquer atitudes fictícias que se erguem meramente sem perícias.
O arqueólogo começa, trabalha, para, e retoma o seu ofício em outra sessão, em outro momento,
Porque sabe que nem todo “cadáver” será encontrado, sequer inteiramente, no primeiro movimento.
Sabe que nem tudo se deteriora com o tempo; há coisas que só ficam guardadas em algum lugar,
Sem subjugar, às vezes, pelo difícil acesso, é necessário ir camada por camada, bem devagar…
Sabe que não sabe o que exatamente encontrará; é comum indagar, pois escavar é ato singular,
Ilusão é chegar! Encontrar algo não é terminar, mas, sim, uma das etapas para que possa interpretar.
Se olharmos bem, as ações desenvolvidas pelo arqueólogo associam-se à atuação do psicanalista,
Porque este lida com discursos, questões e sofrimentos de várias ordens e que não são simplistas.
Ide. Escavar o embaralhamento do verbo. Assim, será o psicanalista arqueólogo do inconsciente?
Ambientes diferentes, o sol não é do oriente, são escavações para identificar se há sobre-vivente.
O psicanalista não é vidente, tampouco o gênio da lâmpada; nem mágico, não realiza desejos,
Sem cortejos, olha e testemunha como o outro escuta, e não escuta o que sente, seus ensejos,
Entre lampejos, diferentemente, o passo é que o analisando se torne arqueólogo de si mesmo,
Sem pressão, que se des-cubra ao falar sobre os seus medos, suas angústias, sobre o seu resmo.
Que se coloque a se exumar, se escutar, enquanto demonstra, fala e escava as suas próprias dores,
Que subverta imposição de valores, pois nem mesmo nas mesmas cores são iguais todas as flores.
O psicanalista está ali, acompanha, escuta, observa, pontua, interpreta as pistas dessas escavações,
Por ora, percebe que o outro procurava fora aquilo que está oculto em suas próprias convicções…
É comum! Muitos chegam na clínica assim: machucados, deslocados, soterrados ou empoeirados,
Afirmando não saber, ou não dar conta de algo: afetados, calcificados, desanimados ou enlutados.
Essas são algumas questões particulares para o trabalho, que é sempre inédito, para cada exumação,
Exumar-se, então, é um dos caminhos possíveis para que o sujeito tenha de si outra construção.
Exumar-se para o encontro não daquilo que está morto, e sim do enigma que se faz vivo quando é encontrado…
Seja nas profundezas dos mares ou no infinito do céu estrelado…
(Vulgo Elemento)