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NÃO É POUCA BOSTA

Cerimônia de Colação Festiva – UNIFESP – 2020

Discurso proferido pelo Prof. Dr. Daniel Péricles
Arruda aos/às formandos/as em Serviço Social da Unifesp, campus Baixada
Santista, em 13/02/2020.


Boa noite aos presentes: alunos, alunas,
professores, professoras, familiares, amigos, amigas, bem como aos
profissionais que participaram da construção dessa cerimônia de Colação
Festiva… Recebam os meus sinceros e fraternos cumprimentos! Cumprimento-os,
com satisfação por estar aqui com vocês, compartilhando essa solenidade
marcante, sensível e emocionante… Uso dos meus versos para saudá-los. É como
se minhas palavras estendessem um tapete vermelho para cada um de vocês:
entrem, sentem-se, fiquem à vontade. É como se meu olhar lançasse pétalas para
acariciá-los. Sintam-se abraçados pela minha voz e acolhidos pelo meu sorriso.
Agradeço-lhes pela presença, pois cada presença é
única: irrepetível, importante, indivisível, pulsante e, certamente, compõe esse
mosaico afetivo que somos nós. Seremos testemunha de um rito, veremos uma das
passagens do rio desembocando no mar; o mar que não se faz sozinho; o mar que é
um conjunto de coisas unidas em três letras: M-A-R… O mar que depende das
profundezas, do vento, do sol, das pedras, das margens, depende da água, da
gente; assim como dependemo-nos uns dos outros, agora, para formarmos essa
unidade.



Agradeço aos alunos e às alunas pelo convite para
ser Paraninfo da turma de formandos e formandas em Serviço Social, da
Universidade Federal de São Paulo, campus Baixada Santista. Confesso que não
esperava! Outro dia, lá em casa, estava tomando café, quando abri o e-mail e
vi: “Convite para Paraninfo e Homenageado – formandos 2019”. Quase engasguei!
Logo pensei: “Só pode ser trote! Como assim?!”. Até que vi que era sério; tão
sério como a minha alegria por estar aqui. Assim, obrigado pelo carinho e a
responsabilidade que a mim foi atribuída. Junto a mim estão os/as outros/as
professores/as, companheiros e companheiras de trabalho, que também
participaram do processo de formação profissional de vocês. Em especial, cito e
os parabenizo pela homenagem à Profa. Dra. Andrea Almeida Torres que, de fato,
tinha os pés no chão, mente aberta e amplitude na visão. Imersa no debate sobre
a ética, os direitos humanos e a relação entre a liberdade e a prisão, marcou a
nossa vida acadêmica.



Essa vida acadêmica que não é tão simples; em que é
preciso, às vezes, mudar de bairro, cidade ou estado; mudar ou sair do
trabalho; se distanciar, temporariamente, de familiares e amigos; adiar ou
abandonar outros sonhos, projetos de vida; ter que lidar com a perda de alguém
muito próximo; ter que lidar com a falta de recursos financeiros; ter que lutar
pela permanência estudantil digna; ter que parar para respirar e depois voltar,
mais forte, talvez… E vivenciar a desconstrução daquilo que vocês eram para
fazer construir aquilo que vocês queriam ser.



Mas, também temos que reconhecer os outros lados
desse processo, como o aprendizado adquirido, elaborado e construído; as
contribuições em grupos de estudos e pesquisas; o crescimento e o
desenvolvimento pessoal; as amizades; aquele bate-papo sentados no chão da
escadaria, do pátio e do corredor; a elaboração conjunta de cartazes para a
manifestação; aquela alegria que acontece repentinamente quando se aprende algo
que, até então, era difícil aprender; a alegria da aprovação… Aquela alegria
que acontece na mesma velocidade do piscar dos olhos e que, comumente, não
percebemos.


Penso na formação profissional como as estações do
tempo: processos, condições, mudanças, ciclos e contradições… Pessoal, olhem
para trás e vejam de onde e como vocês vieram! A gente cresce como as flores…
Elas não são assim?! Encaram o frio, a chuva, o sol forte, mas também são
visitadas pelas abelhas e pelo vento leve da brisa, são bem tratadas por
aqueles que as respeitam; e, assim, elas florescem. Procurei ser jardineiro em
seus caminhos, por compreender que vivemos em meio às pragas, ou seja, aos
desgovernos e às diversas violências que enfrentamos diariamente, vocês sabem
quais são.



Vocês devem estar pensando: “Poxa, ele tem razão!
Mas quantas vezes tive que responder à pergunta: Por que você escolheu o curso
de Serviço Social? O que faz um assistente social?” Fiquem tranquilos! Não
farei essas perguntas aqui e agora. Mas não as ignorem. Não deixem de
respondê-las, pois são perguntas que falam da origem e do desejo de cada um.
Lembrem-se: cada um é o seu próprio rio, e a gente, juntos, formamos o mar. Na
minha visão, essas perguntas valorizam as nossas histórias e nos posicionam no
tempo presente.



Desse modo, o rio vai seguindo seu curso,
desenhando percursos, fazendo aquele barulhinho que chamamos de “barulho
d’água” que, nas palavras de Manoel de Barros, é a cobra de vidro. Daquela que
dá a volta por detrás da casa; que, pela poética de sua imaginação, não se
chama enseada.
E, assim, os parabenizo, manifestando o meu desejo
de que vocês sejam felizes na vida e na profissão, que se atentem à ética, à
formação permanente e à humildade em reconhecer que não são superiores aos
outros porque concluíram um curso superior. Valorizem os silêncios, as escutas,
as palavras, os diálogos, as subjetividades, as artes, as mediações, o lazer, o
amor…
Saibam que, se eu pudesse, levaria cada um em seu
primeiro dia de trabalho de mãos dadas, e segurando a mochila; como um gesto de
carinho e proteção, assim como o jardineiro leva a semente até a terra; assim
como as abelhas levam afago até a flor…


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