Mãe é o quê?
A gente carrega a vida dentro da própria vida…
Sente enjoo, dor, solidão, amor, mas também sentimos
outras coisas que a sociedade condena, e eu não tô a fim de ser moralmente
presa…
Mãe é Deus, porque a gente faz loucura na terra; a
gente vira uma fera, pra defender a nossa cria, pois:
“Ele é meu filho! Ela é minha filha! Veio daqui, ó, de dentro…”.
A gente se personifica… A gente ama igual a Deus…
A gente se coloca de frente com a morte, para o
nosso filho não ir embora…
A gente se desespera. Grita. Berra. Exagera. Está
pra nascer quem decifra…
Mãe é Deus…
Mãe é Deus, porque muitos não acreditam na gente, seja
por causa da nossa força ou fragilidade.
Aparência de mãe é mística, crítica, política.
Estamos presentes mesmo não estando por perto.
Cada mãe é de um jeito, eu sei, e isso não é um
problema.
Mãe é solo, mãe é colo, mãe é adotiva, mãe é
homoafetiva, mãe é biológica, mãe é plural, mãe é do coração…
Mãe é Deus…
Mesmo a mãe que perde o seu filho, continua sendo
mãe; filho não morre na memória.
Mãe continua sendo Deus.
A gente tá presente, mesmo que na simbologia.
Mãe é Deus, porque, às vezes, é esquecida, e muitos
não têm fé na gente…
Mãe é Deus, mas precisamos de cuidados também, viu?!
Mãe é Deus…
Mãe é Deus…
—
Poesia inspirada em um potente
diálogo com Júnia Costa sobre maternagem, ao ouvi-la dizer: “[…] Mãe é Deus,
porque a gente faz loucura na terra”. A partir daí, com base em sua simbologia
e afeto, me senti profundamente tocado, e o que fiz foi simplesmente deixar que
os versos ramificassem para o papel…