Lembro-me que, quando criança,
Nos momentos de tristeza,
Ou perante alguma situação conflituosa,
O choro era um recurso importante…
Meu pai, ao me ver chorando,
Tocado por minhas lágrimas ou minha feição triste,
Dizia:
“Não fique assim.
Você é um homem ou um saco de batatas?”.
Às vezes, eu falava:
“Um saco de batatas, pai!”.
Por mais que o relato pareça ser de tristeza,
O contexto me fazia rir e sentir melhor.
Pois eu lhe respondia ao contrário do que ele esperava ouvir.
E eu achava muito engraçado o modo como ele reagia, brincando:
“Você é um saco de batatas?!”.
Meu pai era assim: um homem simples, não alfabetizado.
Utilizava o recurso que possuía. Não o julgo. Não o julgue.
Ser um “saco de batatas” trazia o sentido de ser inerte, de não poder reagir.
[Aqui, batatas não falam.]
De, a qualquer momento, ser descascado, amassado, cortado, frito ou virar purê.
E, ser homem, não trazia o teor de não poder expressar minhas fraquezas.
Não era no sentido de que “homem não chora”, tampouco de superioridade.
Para ele, dizer “homem”, era o modo de me posicionar perante a situação.
De me acalmar, para então me ouvir, mesmo chorando.
E você?
É um ser humano ou um saco de batatas?
(Vulgo Elemento)